A obra, lançada em 1897 pelo irlandês Abraham “Bram” Stoker,
é uma daquelas tão boas, mas tão boas que mesmo quem não leu tem ao menos
uma vaga ideia sobre do que se trata. Com esse livro, Stoker trouxe ao mundo um
dos mais icônicos personagens de todos os tempos. Antes de Entrevista com
Vampiro, Crepúsculo e outras histórias de sugadores de sangue, foi aqui que a
figura do vampiro ganhou peso na Literatura e que traz até hoje elementos de
terror mesmo para nossa cultura atual.
Baseado nessa obra, o lorde das trevas ganhou forma muitas
vezes nas telonas e telinhas. São incontáveis filmes que tiveram como inspiração
a mítica da obra de Bram Stoker. O vilão foi inicialmente adaptado para as
telonas por Bella Lugosi, depois por Christopher Lee e até pelo homem de mil
faces, Gary Oldman, apenas para citar os mais marcantes. Algumas adaptações são
boas, outras, nem tanto, e outras maltratam o legado de um dos maiores vilões
de todos os tempos. Comparando à obra que deu origem a eles, porém, nenhum é
tão forte e assustador quanto o do livro.
Por ser uma obra de domínio público, muitas editoras, aqui
no Brasil, já lançaram o livro em português. A que foi usada para essa resenha
foi a 5ª reimpressão, de dezembro de 2014, da editora Landmark, em versão bilíngue
e com capa dura.
O livro traz, antes da história principal, um conto chamado
O Convidado de Drácula, lançado originalmente apenas em 1914, dois anos após a
morte do autor. Com alguns textos de Stoker sem terem sido publicados, a víuva encaminhou
à editora inglesa George Routledge and Sons uma série de nove intitulada “O Convidado
de Drácula e outros contos sobrenaturais”. A narrativa serve como uma
introdução ao livro. É interessante como curiosidade histórica.
A história principal, ”Drácula: Uma história de mistério”, é
contada por meio de relatos, diários, textos de jornais e cartas trocadas entre
Jonathan Harker, Mina Murray, Van Hellsing, Dr. Seward, Quincey P. Morris e
outros. Esse estilo não é tão incomum e é o mesmo modelo usado por Mary Shelley
em seu eterno “Frankenstein, Ou o Prometeu Moderno”, de 1818.
A narrativa tem início com a chegada de Jonathan Harker, um
advogado londrino, à Transilvânia. O objetivo dele é se reunir com um conde chamado
Drácula para tratar da compra de uma propriedade em Londres. Harker vai ao
local com a expectativa de ficar alguns dias lá para acertar os detalhes da
aquisição, ensinar um pouco sobre a geografia e política londrina e ir embora.
Porém, aos poucos, começa a perceber que seu plano não seria
concluído, pois o conde fez dele seu prisioneiro. No início, o relato é contado
por meio do diário de Harker e cartas para a noiva, Mina. A princípio ele fala
sobre a excitação de conhecer o local, mas conforme o tempo passa e ele entende
que está preso, começa a ficar tenso e passa a questionar a si mesmo se algo
sobrenatural o perturba.
Apesar de existir um vampiro na história, tudo se passa de
forma muito crível e coesa. A trama se desenvolve em um ritmo gradativo,
mostrando Harker em um ambiente inóspito, sem entender de fato o que acontece
ao seu redor. Ao juntar os pontos, pouco a pouco, a sanidade dele começa a desaparecer.
A narrativa é bastante tensa e o autor, já experiente na época, soube trazer
essa atmosfera pesada para o leitor.
O advogado descobre os planos de seu malfeitor e consegue voltar
para Londres. Lá, outros acontecimentos estranhos começam a acontecer, como uma
mulher de branco que ataca pessoas durante a madrugada. Um navio atraca no
porto com nada menos que toda a tripulação morta de forma inexplicável. No hospital
psiquiátrico próximo à nova casa de Drácula, em Londres, um paciente começa a
fugir do controle com alucinações sobre um mestre das trevas. E para deixar
Harker ainda mais desesperado, sua noiva é atingida por uma doença
inexplicável, deixando-a com uma anemia forte e quase à beira da morte.
Todas essas passagens são realmente muito marcantes, com clima
de suspense. A contagem de corpos é alta e o vilão é implacável em busca de
seus objetivos. O ponto alto do livro é a construção da história, que é bem
sucedida ao mostrar os personagens frente a um perigo desconhecido e que beira
o inexplicável. As artimanhas de Drácula fazem jus à fama de ser um dos maiores
vilões da história, e talvez um dos mais repaginados também.
Porém, muito se engana quem assistiu a qualquer versão
cinematográfica e acredita que Drácula se move pela paixão, por vontade de
conseguir um novo amor. Ele não é assim nesta obra. Sem remorso, sem compaixão
ou qualquer sentimento humano, ele prova ao leitor sua crueldade na forma mais
pura ao castigar, física e psicologicamente, todos os que cruzam seu caminho.
Bram Stoker concebeu, por releitura histórica do príncipe da
Valáquia (região hoje que faz parte da Romênia) Vlad, o Empalador, um dos
vilões mais cruéis e brutais que o mundo já viu. Se houvesse um hall da fama de
vilões, Drácula, de Bram Stoker, com certeza estaria lá.
Ficha Técnica
Drácula - Edição Bilíngue Português-Inglês
Autor: Bram Stoker
Editora Landmark
Capa dura
Páginas: 432