Escolhi o filme À
Meia Noite Levarei Sua Alma para dar início ao blog, pois acredito que seja o
melhor filme de terror já feito no Brasil. Portanto, vamos prestigiar. Nada
mais justo, afinal, a película, lançada em 1964, tem elementos impressionantes
em vários aspectos e tudo o que um apreciador dos filmes de terror procura,
como vilão cruel, cemitério, mortes e suspense.
À Meia-Noite é o primeiro filme do personagem Zé do Caixão,
o agente funerário de uma pequena cidade brasileira que busca a mulher perfeita
para ter um filho perfeito e dar continuidade à sua linhagem. Idealizado,
escrito e dirigido por José Mojica Marins, esta foi a obra máxima deste cineasta,
que foi imortalizado pelos seus filmes de terror de baixo orçamento. Com À Meia
Noite, Mojica foi múltiplas vezes premiado fora do Brasil, mesmo que ao mesmo
tempo, em seu próprio país, ainda seja mal visto ou entendido como diretor de filmes
B quase cômicos.
O filme começa com uma introdução feita pelo próprio Zé do
Caixão, personagem criado e interpretado por Mojica, questionando qual o sentido
da vida e como atingir a imortalidade através do sangue. Fundo de cemitério,
lúgubre, com um personagem de capa, cartola e assustador. Atmosfera perfeita
que dá o tom ao filme todo. Em seguida, outra personagem do filme, a cigana,
alerta ao espectador: se não é valente e forte, vá embora. Mais uma vez, um
cenário perfeito, com crânios e amuletos enfeitando o local.
A história começa com um funeral em uma cidade que poderia
ser de qualquer região do Brasil, mas pelos sotaques, é mais provável que seja
de fato no interior paulista (as filmagens foram em São Paulo e interior). O
protagonista aparece logo no início da cena e se apresenta como agente
funerário local. Já identificamos sua personalidade quando, ao chegar em casa,
fala para a mulher que participar de enterros lhe dá fome.
E não só isso, ele tem fome de carne. Até aí, nada demais,
claro, porém, a mulher dele replica que é dia santo, por isso, não tem carne. Ao
responder “Hoje eu como carne, nem que seja carne de gente”, temos uma mostra
de como segue o filme, com simbolismos religiosos, quebra de paradigmas e um
personagem que não apenas é ateu, mas desrespeita todos os que tenham qualquer
tipo de religião, por achar que o homem que crê em alguma divindade seja um
prisioneiro de seu próprio Deus. Apesar de esse discurso ser levado muitas
vezes de forma teatral, é uma premissa muito avançada para a época.
Essa forma de impor sua não crença assusta os moradores
locais. Um homem barbudo, que renega qualquer tipo de fé, se veste apenas de
preto, de capa e trabalha com mortos já dá motivos suficientes para a população
temer. Mas não para por aí. Zé do Caixão é feroz. Ele é brutal. Muito brutal.
Não se deixe enganar, mesmo sendo apenas humano, nem o Drácula de Lugosi, a
criatura de Frankenstein, interpretada por Karloff ou qualquer outro monstro
clássico são tão malvados quanto Zé do Caixão. Ele queima pessoas vivas, mata o
melhor amigo para ter uma chance com a noiva dele e assusta a própria esposa
com uma aranha.
Apesar de ter orçamento baixo, com um diretor que nem ao
menos completou os estudos fundamentais, quanto mais uma faculdade de cinema, o
filme é um marco. Os ângulos, trilha sonora, cenografia e uso de efeitos
práticos, como aranhas de verdade nas cenas de tortura abrilhantam muito a
obra. Para entender o poder do filme, basta assisti-lo. É claro que ao conhecer
a história do lendário José Mojica Marins a coisa fica ainda mais interessante,
mas basta ver o primeiro minuto da película para saber que ele não estava de
brincadeira quando concebeu essa obra-prima do gênero.
Ficha Técnica:
À Meia Noite Levarei Sua Alma
Direção: José Mojica Marins
Roteiro: José Mojica Marins
Lançamento: 9 de novembro de 1964
Duração: 81 minutos
Klaus fale de À Beira Da Loucura.
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