domingo, 26 de março de 2017

À Meia Noite Levarei Sua Alma

Escolhi o filme À Meia Noite Levarei Sua Alma para dar início ao blog, pois acredito que seja o melhor filme de terror já feito no Brasil. Portanto, vamos prestigiar. Nada mais justo, afinal, a película, lançada em 1964, tem elementos impressionantes em vários aspectos e tudo o que um apreciador dos filmes de terror procura, como vilão cruel, cemitério, mortes e suspense.


À Meia-Noite é o primeiro filme do personagem Zé do Caixão, o agente funerário de uma pequena cidade brasileira que busca a mulher perfeita para ter um filho perfeito e dar continuidade à sua linhagem. Idealizado, escrito e dirigido por José Mojica Marins, esta foi a obra máxima deste cineasta, que foi imortalizado pelos seus filmes de terror de baixo orçamento. Com À Meia Noite, Mojica foi múltiplas vezes premiado fora do Brasil, mesmo que ao mesmo tempo, em seu próprio país, ainda seja mal visto ou entendido como diretor de filmes B quase cômicos.

O filme começa com uma introdução feita pelo próprio Zé do Caixão, personagem criado e interpretado por Mojica, questionando qual o sentido da vida e como atingir a imortalidade através do sangue. Fundo de cemitério, lúgubre, com um personagem de capa, cartola e assustador. Atmosfera perfeita que dá o tom ao filme todo. Em seguida, outra personagem do filme, a cigana, alerta ao espectador: se não é valente e forte, vá embora. Mais uma vez, um cenário perfeito, com crânios e amuletos enfeitando o local.


A história começa com um funeral em uma cidade que poderia ser de qualquer região do Brasil, mas pelos sotaques, é mais provável que seja de fato no interior paulista (as filmagens foram em São Paulo e interior). O protagonista aparece logo no início da cena e se apresenta como agente funerário local. Já identificamos sua personalidade quando, ao chegar em casa, fala para a mulher que participar de enterros lhe dá fome.

E não só isso, ele tem fome de carne. Até aí, nada demais, claro, porém, a mulher dele replica que é dia santo, por isso, não tem carne. Ao responder “Hoje eu como carne, nem que seja carne de gente”, temos uma mostra de como segue o filme, com simbolismos religiosos, quebra de paradigmas e um personagem que não apenas é ateu, mas desrespeita todos os que tenham qualquer tipo de religião, por achar que o homem que crê em alguma divindade seja um prisioneiro de seu próprio Deus. Apesar de esse discurso ser levado muitas vezes de forma teatral, é uma premissa muito avançada para a época.


Essa forma de impor sua não crença assusta os moradores locais. Um homem barbudo, que renega qualquer tipo de fé, se veste apenas de preto, de capa e trabalha com mortos já dá motivos suficientes para a população temer. Mas não para por aí. Zé do Caixão é feroz. Ele é brutal. Muito brutal. Não se deixe enganar, mesmo sendo apenas humano, nem o Drácula de Lugosi, a criatura de Frankenstein, interpretada por Karloff ou qualquer outro monstro clássico são tão malvados quanto Zé do Caixão. Ele queima pessoas vivas, mata o melhor amigo para ter uma chance com a noiva dele e assusta a própria esposa com uma aranha.


Apesar de ter orçamento baixo, com um diretor que nem ao menos completou os estudos fundamentais, quanto mais uma faculdade de cinema, o filme é um marco. Os ângulos, trilha sonora, cenografia e uso de efeitos práticos, como aranhas de verdade nas cenas de tortura abrilhantam muito a obra. Para entender o poder do filme, basta assisti-lo. É claro que ao conhecer a história do lendário José Mojica Marins a coisa fica ainda mais interessante, mas basta ver o primeiro minuto da película para saber que ele não estava de brincadeira quando concebeu essa obra-prima do gênero.

Ficha Técnica:
À Meia Noite Levarei Sua Alma
Direção: José Mojica Marins
Roteiro: José Mojica Marins
Lançamento: 9 de novembro de 1964

Duração: 81 minutos

Um comentário:

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