Na década de 1960, o horror ganhou novo fôlego no cinema,
com filmes como Psicose, Os Pássaros, O Bebê de Rosemary, Três Faces do Medo, O
Último Homem da Terra e tantos outros. Foi uma década agitada e com muitos
excelentes filmes do gênero. A inauguração de alguns subgêneros, por assim dizer,
também foi realizada neste período. O Último homem da Terra, com Vicent Price, por
exemplo, foi o primeiro filme de Terror de sobrevivência. Nele, o protagonista
sobrevive a uma endemia que transforma todos os habitantes do planeta em
zumbis/vampiros.
Essa diversidade de roteiros trouxe o início do gênero slasher,
que ficaria muito forte nas décadas seguintes, com O Massacre da Serra
Elétrica, Halloween, Sexta-feira 13, A Hora do Pesadelo e outros. E foi logo no
ano de 1960 que o diretor Michael Powell lançou Pepping Tom, traduzido no
Brasil como A Tortura do Medo, o precursor de todos esses filmes, meses antes
de Psicose.
O cineasta mostrou um novo estilo de filme, com muita
violência, tortura psicológica e com a atmosfera carregada de suspense. Obviamente,
a crítica foi implacável, chamando o filme de, entre outras coisas, pervertido.
É claro que a violência do longa é muito forte para a época, e a premissa
também era incomum para a sociedade. Eles simplesmente não estavam preparados
para esse tipo de filme.
Todo o incômodo aconteceu por conta de um roteiro
perturbador misturado à técnica de filmagem, que traz o espectador praticamente
para dentro do filme. A história gira em torno de Mark Lewis (Karlheinz Böhm),
um garoto que era cobaia do próprio pai, um neurologista. Ao crescer, ele vira
câmera de um estúdio cinematográfico e desenvolve um distúrbio psicótico. Passa
a matar mulheres enquanto as filma, para analisar as faces do medo do ser
humano.
Uma das grandes curiosidades é que os futuros filmes de
assassinos seriais, como Psicose, tentam ocultar o vilão, fazer dele uma figura
misteriosa, até mesmo com o uso de uma máscara, para não mostrar o verdadeiro
rosto. Neste filme, o assassino é revelado ao espectador logo no início. O mais
importante não é saber sua identidade, mas sua motivação e a trama da história.
O ritmo não é dinâmico, mas dá tempo para o espectador se acostumar com o
vilão, entender sua psique e ficar tenso a cada vez que Mark decide que está
novamente na hora de agir. Em uma das cenas mais perturbadoras do filme, ao
assistir a um dos vídeos de assassinato que fez, Mark se sente desapontado com
a mulher que acabara de matar e diz que as expressões não foram suficientemente
boas. Portanto, decide que precisa assassinar outra pessoa.
As mortes são todas filmadas do ponto de vista do assassino,
em primeira pessoa, aproximando a face da vítima da tela e do espectador. A
câmera não é um elemento importante apenas por registrar o ato doentio do
protagonista. Ela é também a arma de Mark. Um dos pés do tripé carrega uma
lança embutida. Desta forma, ele consegue filmar de perto enquanto mata sua
vítima.
Em inglês, a expressão “Peeping Tom” vem da lenda de Lady
Godiva, de quando ela cavalga nua pela cidade para obrigar seu marido a
diminuir os impostos dos cidadãos. Quando um homem, conhecido apenas como Tom,
espiou a mulher nua, ficou cego imediatamente. Em inglês, a expressão tem o
mesmo significado de voyeur. E é exatamente assim que o espectador se sente ao
assistir ao filme, observando os assassinatos, algo próximo de um pervertido. A
película coloca o espectador diretamente na narrativa, quase como um vizinho,
observador de toda a trama. Nesse aspecto, o filme parece ter se baseado em elementos
de A Janela Indiscreta.
Por tudo isso, o filme é bastante perturbador, com um final
pesado, e à frente do tempo em que foi feito. Isso, inclusive, foi a ruína do
diretor, um visionário que seria redescoberto somente anos depois, por Martin
Scorsese. Mesmo com filmes mais sangrentos lançados mais tarde, Peeping Tom – A
Tortura do Medo continua carregando uma atmosfera perfeita para um filme de
Terror. Esta obra-prima deve ser vista por qualquer um que se declara fã do
gênero.
Ficha Técnica
Pepping Tom - A Tortura do Medo
Diretor: Michael Powell
Roteiro: Leo Marks
Lançamento: 16 de maio de 1960
Duração: 101 minutos
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