Os filmes de monstros geralmente se baseiam em uma fórmula desgastada.
Faz-se um suspense, um rastro de caos e destruição é mostrado, pessoas com medo
fazem questão de dizer que algo apavorante está à solta etc. Apenas depois de a
história toda estar construída é que o monstro é revelado ao espectador. Essa
linha foi usada em Godzilla, O Mundo em Perigo, O Monstro do Mar e até no King
Kong original. É possível entender que anos atrás esse formato fosse bom, pela
falta de informações e métodos de divulgação menos massivos. Hoje em dia, com
trailers e imagens promocionais sendo arremessadas na cara dos espectadores,
será que funciona?
Para responder, basta assistir à última versão americana de
Godzilla, quando o monstro demora uma hora para aparecer e fica em tela por 11
minutos e 16 segundos em um filme que dura mais de duas horas. É desanimador.
Ao contrário do longa do Rei dos Monstros, Kong: A Ilha da
Caveira faz uma escolha ótima e dá o tom para todo o restante da história. O macaco
gigante que todos adoramos aparece no início do filme, que se passa na década de 1970. Logo que sua cara enorme
aparece, tudo ao redor se torna insignificante. É um monstro de CGI, mas foi
absolutamente bem feito. Em poucos minutos de tela, ainda há um ar de suspense
sobre ele, mesmo com a aparição, provando que privar o espectador de olhar a
criatura não é nem um pouco interessante, ainda mais se ele já apareceu nos
trailers.
Filme tem tomadas espetaculares com muito vermelho e laranja, sem ficar enjoativo
A cena inicial também é muito interessante por se afastar
quase completamente do filme original, de 1933. Já existem referências demais à
criatura, por isso, o diretor Jordan Vogt-Roberts preferiu fazer mais um filme
com tomadas bonitas e ação do que a já batida cena do macaco escalando um
prédio em Nova Iorque. E justamente ao entender que o filme não usará as mesmas
fórmulas que o filme original, o espectador sente-se confortável ao sentar na
poltrona do cinema e apenas assistir ao espetáculo visual que é A Ilha da
Caveira.
Com tomadas de encher os olhos, homenageando o antigo, mas de
estética moderna, Kong não se torna banal em um só segundo. A cena que aparece
no trailer em que ele enfrenta os helicópteros militares com por de sol ao
fundo é sensacional. A trilha que a precede, então, melhor ainda. Quando toca
Paranoid, de Black Sabbath, o som é desconstruído e reconstruído novamente nas
câmeras lentas e de destruição. Mostra, por imagens e sons, a grandeza dessa
nova versão do macaco.
Homenagem aos filmes anteriores, com o Kong se mostrando bonzinho
E como o filme se passa praticamente inteiro dentro da
perigosa Ilha da Caveira, o que temos são cenas de ação abarrotadas de criaturas
gigantes. Nenhuma delas é realmente criativa como os monstros japoneses, mas
são bastante bem feitas. O vilão do filme dessa vez é um monstro, não um humano
que quer aprisionar o Kong e levá-lo aos EUA. Apesar de alguns humanos quererem
matar o macaco, a ameaça real é um monstro gigante.
Por isso, o que temos são cenas que parecem ter sido tiradas
de jogos de videogames, com ação frenética, tiros em terceira pessoa, câmeras
lentas muito bem executadas e tudo o que um filme pop moderno precisa. O local é
perfeito para explosões colossais e metralhadoras cuspindo tiros a rodo, com
cenário paradisíaco, aranhas gigantes e tantas outras criaturas que fazem os
humanos do filme lutarem a todo custo para sobreviver.
O principal inimigo de Kong desta vez não é um tiranossauro
Os humanos, aliás, que não são muito complexos, afinal, o
foco não é neles. Servem para mostrar o quanto a ilha é fantástica e que cada
criatura dela é um enorme perigo. Os atores escolhidos executaram bem os
papéis, mesmo considerando que a contratação deles é quase como atirar em uma
formiga com uma bazuca. Afinal, com papéis tão simples, talvez não fosse
necessário um elenco de tanto peso. Samuel L. Jackson, por exemplo, no papel de
um militar clichê, fez seu melhor, mas o trabalho não exigiu tanto. Assim como
John Goodman, que tem mais talento do que o papel necessitava.
E eles nem são os protagonistas do filme. Quem conduz os
trabalhos são o ex-militar interpretado por Tom Hiddleston e a fotógrafa vivida
por Brie Larson. Todos cumprem bem as funções. Ainda bem.
Brie Larson e Tom Hiddlestone
As atuações são convincentes, mas só dá vontade de torcer
pela sobrevivência de apenas um personagem ao longo do filme, que é o paraquedista
americano que aparece logo no início. No
mais, os personagens são superficiais e descartáveis, já que o Kong é quem
rouba a cena. Mais pela ação do que pela emoção, aliás. Ao invés de tentar um
caso de amor com a loira do filme, como em 1933, 1976 e 2005, ele se mostra
menos um animal apaixonado e mais uma máquina de dar pancadas. Um dos motivos
do filme ser tão divertido.
No geral, o filme é ótimo. Talvez os fãs mais conservadores
do macaco não gostem por acharem que a criatura devesse ser mais emotiva, ou
que os personagens devessem ser mais interessantes. Mas quem busca um bom filme
de monstro, com ação, explosões e espetáculo visual, esse talvez seja um dos
melhores, ou o melhor, da década. Esse Kong não está para brincadeira e foi
imaginado justamente para um filme em que ele luta contra o Godzilla, em 2020.
Vamos aguardar.
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