quarta-feira, 5 de abril de 2017

Crítica - Kong: A Ilha da Caveira


Os filmes de monstros geralmente se baseiam em uma fórmula desgastada. Faz-se um suspense, um rastro de caos e destruição é mostrado, pessoas com medo fazem questão de dizer que algo apavorante está à solta etc. Apenas depois de a história toda estar construída é que o monstro é revelado ao espectador. Essa linha foi usada em Godzilla, O Mundo em Perigo, O Monstro do Mar e até no King Kong original. É possível entender que anos atrás esse formato fosse bom, pela falta de informações e métodos de divulgação menos massivos. Hoje em dia, com trailers e imagens promocionais sendo arremessadas na cara dos espectadores, será que funciona?

Para responder, basta assistir à última versão americana de Godzilla, quando o monstro demora uma hora para aparecer e fica em tela por 11 minutos e 16 segundos em um filme que dura mais de duas horas. É desanimador.

Ao contrário do longa do Rei dos Monstros, Kong: A Ilha da Caveira faz uma escolha ótima e dá o tom para todo o restante da história. O macaco gigante que todos adoramos aparece no início do filme, que se passa na década de 1970. Logo que sua cara enorme aparece, tudo ao redor se torna insignificante. É um monstro de CGI, mas foi absolutamente bem feito. Em poucos minutos de tela, ainda há um ar de suspense sobre ele, mesmo com a aparição, provando que privar o espectador de olhar a criatura não é nem um pouco interessante, ainda mais se ele já apareceu nos trailers.

Filme tem tomadas espetaculares com muito vermelho e laranja, sem ficar enjoativo

A cena inicial também é muito interessante por se afastar quase completamente do filme original, de 1933. Já existem referências demais à criatura, por isso, o diretor Jordan Vogt-Roberts preferiu fazer mais um filme com tomadas bonitas e ação do que a já batida cena do macaco escalando um prédio em Nova Iorque. E justamente ao entender que o filme não usará as mesmas fórmulas que o filme original, o espectador sente-se confortável ao sentar na poltrona do cinema e apenas assistir ao espetáculo visual que é A Ilha da Caveira.

Com tomadas de encher os olhos, homenageando o antigo, mas de estética moderna, Kong não se torna banal em um só segundo. A cena que aparece no trailer em que ele enfrenta os helicópteros militares com por de sol ao fundo é sensacional. A trilha que a precede, então, melhor ainda. Quando toca Paranoid, de Black Sabbath, o som é desconstruído e reconstruído novamente nas câmeras lentas e de destruição. Mostra, por imagens e sons, a grandeza dessa nova versão do macaco.

Homenagem aos filmes anteriores, com o Kong se mostrando bonzinho

E como o filme se passa praticamente inteiro dentro da perigosa Ilha da Caveira, o que temos são cenas de ação abarrotadas de criaturas gigantes. Nenhuma delas é realmente criativa como os monstros japoneses, mas são bastante bem feitas. O vilão do filme dessa vez é um monstro, não um humano que quer aprisionar o Kong e levá-lo aos EUA. Apesar de alguns humanos quererem matar o macaco, a ameaça real é um monstro gigante.

Por isso, o que temos são cenas que parecem ter sido tiradas de jogos de videogames, com ação frenética, tiros em terceira pessoa, câmeras lentas muito bem executadas e tudo o que um filme pop moderno precisa. O local é perfeito para explosões colossais e metralhadoras cuspindo tiros a rodo, com cenário paradisíaco, aranhas gigantes e tantas outras criaturas que fazem os humanos do filme lutarem a todo custo para sobreviver.

O principal inimigo de Kong desta vez não é um tiranossauro

Os humanos, aliás, que não são muito complexos, afinal, o foco não é neles. Servem para mostrar o quanto a ilha é fantástica e que cada criatura dela é um enorme perigo. Os atores escolhidos executaram bem os papéis, mesmo considerando que a contratação deles é quase como atirar em uma formiga com uma bazuca. Afinal, com papéis tão simples, talvez não fosse necessário um elenco de tanto peso. Samuel L. Jackson, por exemplo, no papel de um militar clichê, fez seu melhor, mas o trabalho não exigiu tanto. Assim como John Goodman, que tem mais talento do que o papel necessitava.

E eles nem são os protagonistas do filme. Quem conduz os trabalhos são o ex-militar interpretado por Tom Hiddleston e a fotógrafa vivida por Brie Larson. Todos cumprem bem as funções. Ainda bem.

Brie Larson e Tom Hiddlestone

As atuações são convincentes, mas só dá vontade de torcer pela sobrevivência de apenas um personagem ao longo do filme, que é o paraquedista americano que aparece logo no início.  No mais, os personagens são superficiais e descartáveis, já que o Kong é quem rouba a cena. Mais pela ação do que pela emoção, aliás. Ao invés de tentar um caso de amor com a loira do filme, como em 1933, 1976 e 2005, ele se mostra menos um animal apaixonado e mais uma máquina de dar pancadas. Um dos motivos do filme ser tão divertido.

No geral, o filme é ótimo. Talvez os fãs mais conservadores do macaco não gostem por acharem que a criatura devesse ser mais emotiva, ou que os personagens devessem ser mais interessantes. Mas quem busca um bom filme de monstro, com ação, explosões e espetáculo visual, esse talvez seja um dos melhores, ou o melhor, da década. Esse Kong não está para brincadeira e foi imaginado justamente para um filme em que ele luta contra o Godzilla, em 2020. Vamos aguardar.

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