Corra! traz o pouco conhecido Daniel Kaluuya no papel principal, com a proposta de apresentar um Terror com temática racista. O filme está nos cinemas no grande circuito, no Brasil com um baita atraso, já que estreou nos EUA em fevereiro. A divulgação dos vídeos, cartazes e trailers davam a entender, em dados momentos, que o longa é um terror sobrenatural, mas tudo foi mostrado de forma muito misteriosa, sem detalhar exatamente qual o problema enfrentado pelo protagonista. Isso por si só gerou um grande interesse coletivo. Foi criada uma expectativa de que este poderia ser o filme de terror do ano. Sem atores de primeiro escalão, a aposta foi de criar um longa com baixo orçamento e que focasse na trama, não em efeitos especiais.
Nisso, o filme foi completamente bem sucedido, com gasto de US$
4,5 milhões e arrecadação de US$ 241 milhões. De fato, são poucos efeitos
especiais e o mais importante é o enredo, que se desenvolve aos poucos, de
forma envolvente e misteriosa. Na história, Chris Washington, um rapaz negro,
namora Rose Armitage, uma garota branca que tem a intenção de apresentar o
namorado aos pais, que moram no interior. Chris deixa o cachorro com o melhor
amigo Rod Willians e parte para essa viagem, com receio de que os futuros
sogros sejam racistas. Chegando lá, ele não é maltratado, mas se sente
deslocado pela forma que é recebido.
A história é tensa, mas diferente do que foi apresentado no
trailer. Corra! não tem muitos sustos, nem nada sobrenatural. Não é um filme de
Terror, como foi vendido na divulgação. Isso não tira a beleza da obra, mas o
que temos de verdade é um Thriller, um suspense. O mistério que gira em torno
da família branca que deixa o rapaz negro desconfiado é muito bom, com toques
de ficção científica. A cada momento, o desconforto aumenta e o espectador
sente na pele o racismo sofrido por Chris. A família e os amigos não perdem a
oportunidade de lembrá-lo que ele é negro e falas racistas são proferidas o
tempo todo. O mais interessante é que não são falas propositalmente ofensivas,
mas aquelas desagradáveis de quem tenta parecer que não é racista, mas acaba se
mostrando um, como na frase “Eu não sou racista, votei no Obama”.
E o interessante é que o clima vai ficando tenso, não por
acontecimentos sobrenaturais, mas pelo desconforto causado ao protagonista.
Lembra um pouco o filme Babadook, em que o importante não são os sustos, mas o
clima desconfortável. São vários momentos em que o garoto se sente encurralado,
que sabe que algo ruim vai acontecer, e o espectador se sente mal junto.
O filme tem começo, meio e fim. A história é completa e não
tem muita enrolação. Em determinado momento, há um daqueles típicos sustos
causados por uma aparição e com um estouro de volume. Mas isso acontece apenas
uma vez e não estraga o filme. A trama é conduzida de forma pesada e eficiente,
cumprindo o objetivo de apresentar uma história violenta e que exalta o
racismo. Os negros que aparecem na casa do interior estão visivelmente
deslocados. Eles falam com tom de voz perturbador e claramente mostram pelo
semblante que algo muito errado está acontecendo no local.
Jordan Peele estreou muito bem como diretor, trouxe ao mundo
um bom filme de suspense, que prefere causar desconforto a dar sustos fáceis.
As cenas violentas são bastante fortes, mas ficam longe de serem banais,
aquelas que são apenas “mostrar sangue porque é legal”. Os personagens são
bastante carismáticos, cada um ao seu modo, e formam uma trama interessante e
que cativa desde o primeiro minuto do filme.
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