terça-feira, 13 de junho de 2017

Crítica: A Múmia (2017)


Antes de qualquer coisa, sei que A Múmia, em teoria, não deveria ser contemplado pelo Blog do Maldito. Aqui, nós tratamos de Terror, deixando uma margem tranquila para tratar de suspense e de monstros. Algumas vezes, vamos passar um pouco da margem, claro. Alguns casos são especiais, como é o caso dessa nova versão do querido monstro egípcio. Infelizmente, porém, acredito que vamos tratar nem tanto do filme em si, mas do legado que a Universal quer manter com o chamado Dark Universe, que vai trazer de volta os monstros clássicos do estúdio ao cinema.

Bem, caso nosso leitor seja um fã assíduo de terror, isso já é óbvio, mas caso não seja, vamos explicar um pouco mais. A Universal foi responsável por trazer ao cinema, na década de 1930, personagens fictícios de contos de terror. O estúdio encontrou um nicho ao lançar o Drácula interpretado por Béla Lugosi, o Frankenstein, por Boris Karloff, o Lobisomem, por Lon Chaney Jr. e o Monstro da Lagoa Negra. O Terror teve seu período de ouro no cinema, graças à Universal e suas maquiagens fantásticas, clima sombrio e personagens poderosos e marcantes.

Boris Karloff foi o Imhotep original, tinha presença e hipnotizava com o olhar

Aquele período tentou ser repetido pelo estúdio Hammer, na Europa, na década de 1950, com atores de peso como Christopher Lee e Peter Cushing. Apesar de terem feito ótimos filmes, não houve ineditismo de personagens. Em ambos os estúdios, além dos clássicos personagens tirados de livros, houve um que chamou muito a atenção: a múmia.

Criado em 1932, este talvez tenha sido o único filme de terror da época com uma concepção criativa tirada de lendas antigas e trazida aos tempos atuais. E ninguém melhor que Boris Karloff, o melhor ator do estúdio, para dar vida ao vilão que dá nome ao filme. O roteiro, hoje, fica muito manjado. Um time de arqueólogos liderados por Joseph Whemple descobre restos mumificados de um antigo príncipe do Egito, Imhotep, ao lado do livro de Thoth, que trazia segredos sobre a vida e a morte. O mesmo vilão foi usado também na versão de 1999, estrelado por Brandon Fraser.

A Mão da Múmia tinha cenários mais elaborados e trama mais divertida

Apesar de a múmia ter sido um monstro usado em outros tantos filmes, como em A Mão da Múmia, de 1940, e A Múmia do estúdio Hammer, de 1959, em cada filme os personagens tinham origens levemente diferentes e os nomes deles eram outros. Em ambas as versões, o nome do monstro é Kharis. O Imhotep é um personagem exclusivo da Universal.

Christopher Lee foi Kharis, na versão brutal da Hammer Studios

Hoje, a versão mais popular é a de 1999, que apesar de trazer o personagem Imhotep, tem o roteiro mais próximo ao filme A Mão da Múmia. O filme de 1932 foi concebido como Terror, enquanto o de 1940 era algo mais moderno, com momentos de comédia, ação e romance, uma clara inspiração para o Indiana Jones, com caça ao tesouro antigo e muita aventura. Até hoje, esse é o formato padrão dos Blockbusters americanos.

Na versão de 1999, os efeitos especiais são bem feitos e usados quando necessários

Pois bem. Com o faturamento gigantesco que a Marvel Studios tem conseguido no cinema, seguido pela DC e até por Godzilla e King Kong, a Universal acreditou que era a hora de investir em um universo expandido. E antes que qualquer pessoa ache que isso é copiar o formato da Marvel, já deixamos claro que se existe um estúdio que tem o direito de usar essa fórmula de crossover é justamente a Universal, pois foi ela que criou isso, no filme Frankenstein Meets the Wolf Man, de 1943.

Com o caminho iluminado pela Marvel, a Universal iniciou, com a Múmia, o chamado Dark Universe, justamente o tal universo expandido, que trará novamente os monstros clássicos às telonas. E trataram com o peso devido, divulgando o trabalho com mais de um ano de antecedência, escolhendo nomes como Russell Crowe, Tom Cruise, Johnny Depp e rumores ainda de que contarão futuramente com Angelina Jolie e Javier Barden.

O estúdio se esqueceu apenas de uma coisa: fazer um bom filme.

Cena da queda do avião com o casal protagonista da nova versão

Todo o potencial que o filme tinha não foi simplesmente enfraquecido por ter estreado uma semana depois do fenômeno de vendas Mulher-Maravilha. O filme, que deveria ser um arrasa quarteirão, é genérico.

Tom Cruise interpreta o sargento Nick Morton, que muito facilmente poderia ser chamado de Ethan Hunt, da série Missão Impossível. O par romântico Jenny Halsey é interpretado por Annabelle Wallace (de Annabelle), uma personagem genérica que se apaixona pelo protagonista de forma estupidamente forçada. A vilã do filme, Ahmanet, é interpretada por Sofia Boutella, ou é o que se espera debaixo de todo o efeito especial colocado nela. Uma vilã muito poderosa, mas que é burra e insossa. E Russell Crowe, que interpreta o Dr. Henry Jekyll, chega para fazer o papel de Nick Fury do Dark Universe, sendo o elo para todos os monstros que aparecerão nos próximos filmes. Caso sejam rodados, é claro.

Vamos começar pelos pontos positivos, porque será mais rápido. A cena da queda de avião, mostrada no trailer, é espetacular. Talvez seja a melhor queda de avião mostrada no cinema na última década. E quanto à cenografia, a tumba da múmia é linda. E é só isso, mesmo.

Não vamos dar nenhum spoiler, nem falar dos detalhes que pioram o filme. A Múmia é um péssimo longa. Muito ruim. Falha nas cenas de ação, o humor é muito forçado (eu não ri em nenhuma cena ), os personagens são totalmente sem carisma, a trama é estúpida e as brechas de roteiro são inacreditáveis, assim como a quantidade de coincidências que acontecem para que o filme não acabe no meio da história.

Maquiagem digital pesada e personalidade insossa estragaram a vilã

A quantidade de efeitos especiais é absurda. Eles criaram uma múmia em CG que certamente seria melhor executada se Boutella simplesmente fosse maquiada e enfaixada. Para que criar uma pessoa de efeito especial? Não faz sentido algum. A horda de mortos não é composta por uma múmia sequer. O filme se passa na Inglaterra e no Iraque, com poucas cenas (apenas flashback) no Egito. O final é previsível. E quanto ao tal Dark Universe, todo o ouro já foi entregue. Já foi mostrado o crânio de um vampiro, de um humano que dá a impressão de ser a criatura de Frankenstein, o braço do Monstro da Lagoa Negra e quanto ao Dr. Jekyll, vamos parar por aqui para não estragar sua experiência. Mas podemos adiantar que essa pode ter sido a pior atuação da carreira de Russell Crowe.


Russell Crowe poderia ter passado sem essa

Esta versão nova do clássico de 1932 é uma afronta ao próprio legado da Universal. O filme é péssimo e caso realmente seja feito um novo filme deste universo expandido em 2019, a expectativa será muito baixa. Se você é um fã de terror, fuja deste filme. Se você é fã de ação, fuja deste filme. Se você é fã de qualquer outro gênero, fuja deste filme. Se quiser assistir, vá, mas não diga que não avisei.

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